As transformações espaciais urbanas, não somente desencadeiam transformações materiais, mas também produzem reorganizações profundas nos âmbitos social, político e cultural das cidades. Os projetos urbanísticos muitas vezes atendem aos interesses dominantes em detrimento das necessidades básicas dos setores populares, tendo fenômenos como a gentrificação e a remoção de famílias como produtos diretos de sua execução, o que acentua a segregação socioespacial e a precariedade urbana no que cerne à infraestrutura básica e à proteção dos patrimônios comunitários.
Nesse contexto, compreende-se a memória como uma formulação que expressa as relações sociais, sendo a memória nacional difundida e reafirmada como a forma mais acabada de memória coletiva. Sabendo, então, que a nação é uma formulação hegemônica, é preciso acessar as memórias de minorias políticas. A partir dessa compreensão, uma das frentes de atuação do Museu das Remoções apresenta as possibilidades de utilização da memória social como dispositivo de reivindicação do direito à cidade e luta pela garantia do direito à moradia digna, por grupos populares e periféricos, que vivem às margens das cidades e apoia a luta de outras comunidades atingidas pelo processo de remoção.
As remoções não pararam nem durante a pandemia!
As remoções que desconfiguraram as dinâmicas territoriais da Vila Autódromo para dar lugar ao estacionamento do Parque Olímpico, em 2016, podem ser relacionadas aos despejos que ocorreram no Brasil durante a pandemia de Covid-19 que desabrigaram diversas famílias no momento em que uma das recomendações básicas era “ficar em casa”. Nos dois casos, as transformações urbanas que engendram a estratificação social operaram em detrimento da garantia de direitos fundamentais.
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